Desempenho ruim na Sul-Americana reflete cenário conturbado dentro e fora das quatro linhas; direção interina admite rombo financeiro e futuro incerto
André Ramalho, zagueiro do Corinthians, após derrota para o Huracán na Copa Sul-Americana — Foto: Luis ROBAYO / AFP
O momento do Corinthians é dos mais delicados de sua história recente. Fora de campo, o clube enfrenta turbulências institucionais graves: denúncias de corrupção, indiciamentos de dirigentes e um vácuo administrativo após um traumático processo de impeachment. Dentro de campo, os resultados também preocupam — a eliminação precoce na Copa Sul-Americana, após derrota por 1 a 0 diante dos reservas do Huracán, na Argentina, escancarou falhas técnicas e táticas do time comandado por Dorival Júnior.
Mesmo com uma das maiores folhas salariais do país, na casa dos R$ 25 milhões mensais, o Timão não conseguiu avançar nem na Libertadores, nem na Sul-Americana. A queda ainda na fase de grupos, com apenas uma vitória — justamente sobre o frágil Racing-URU — expõe a fragilidade coletiva de uma equipe que deveria render muito mais.
A crise institucional é profunda. Em uma semana, o presidente e antigos dirigentes foram indiciados por crimes como associação criminosa, furto e lavagem de dinheiro. Na seguinte, a nova gestão, ainda provisória, alega ter encontrado cofres vazios em um clube que arrecada mais de R$ 1 bilhão por ano.
Embora seja difícil medir o impacto exato desses escândalos no desempenho esportivo, o reflexo em campo é evidente. Contra o Huracán, Dorival apostou em uma formação que não funcionou. Félix Torres voltou a ser improvisado na lateral direita, com saída de bola composta por três zagueiros. À frente de Raniele, a trinca com José Martínez, Breno Bidon e André Carrillo não rendeu. Carrillo, por exemplo, ficou preso ao lado do campo, longe de sua melhor zona de atuação, que é mais centralizada.
Com dificuldades para fazer a bola chegar a Memphis Depay e Ángel Romero — que pouco participaram do jogo — o Corinthians produziu pouco ofensivamente. O treinador percebeu a limitação e mexeu no intervalo, tirando Martínez e colocando Talles Magno. No entanto, logo no início da etapa final, um erro defensivo permitiu ao Huracán abrir o placar.
O gol foi um baque. Se no primeiro tempo o time ao menos tinha mais posse e algum controle, no segundo perdeu também isso. A entrada de Garro, retornando de lesão após dois meses, trouxe leve melhora, mas insuficiente. Dorival tentou de tudo: lançou Matheuzinho, Igor Coronado, Maycon... mas não utilizou Héctor Hernández, mesmo com a equipe precisando de um gol.
O trabalho do técnico ainda engatinha e tem sido prejudicado pela maratona de jogos, que limita os treinos. Mesmo assim, chama atenção a insistência em esquemas que não funcionam. O losango no meio-campo, utilizado no Paulistão, parecia mais promissor.
Desde a conquista estadual, o desempenho só caiu. A pausa do calendário com a disputa do Mundial de Clubes pode ser uma oportunidade para reorganização. A volta de Garro é outro ponto positivo. Mas é fora de campo que as mudanças mais urgentes precisam ocorrer.
A governança precisa ser modernizada, com mais transparência e menos acordos políticos. Cortes de gastos, valorização das categorias de base e um plano sólido para lidar com a dívida de R$ 2,5 bilhões também são indispensáveis.
Caso contrário, a repetição dos vexames será apenas uma questão de tempo. Dentro e fora do gramado.
Fonte: Jogo de Hoje 360