Navarro denuncia xenofobia após confronto com Bobadilla no Morumbis

Escrito em 28/05/2025
Redação São Paulo

Jogador do Talleres afirma ter sido chamado de "venezuelano morto de fome" por atleta do São Paulo e aguarda providências legais; Bobadilla não foi encontrado pela polícia no estádio



Navarro em campo em São Paulo x Tallares — Foto: Talleres

O meio-campista Juan Cruz Navarro, do Talleres-ARG, formalizou uma denúncia contra Damián Bobadilla, volante do São Paulo, por suposto caso de xenofobia durante a partida entre as equipes pela Conmebol Libertadores, na última quarta-feira (22), no Morumbis. Após o apito final, o venezuelano detalhou à imprensa o que teria acontecido durante a discussão em campo.

— É realmente lamentável falar deste tipo de coisa, mas quando eles fazem o 2 a 1, Luciano estava dando praticamente uma volta no campo e eu disse ao árbitro que se apresasse, que necessitamos jogar. O Bobadilla me disse: "Vocês sempre fazem tempo (cera)". E eu disse: "Que tempo, vocês estão ganhando?". Aí ele me chamou de venezuelano morto de fome. E fiz a denúncia — relatou o atleta, visivelmente abalado.

Navarro chegou a cogitar abandonar o gramado. Emocionado, chorou antes de retomar a partida, influenciado pela decisão de não prejudicar a equipe, que já havia feito todas as substituições.

— Eu quis sair de campo, mas lamentavelmente não tínhamos mais substituições, pelo trabalho dos meus companheiros eu não quis sair e deixá-los com um a menos, mas minha cabeça não estava mais no jogo.

Segundo relatos, Bobadilla deixou o estádio antes de ser localizado pela Polícia Militar, que buscava levá-lo ao Jecrim (Juizado Especial Criminal) instalado no próprio Morumbis. De acordo com a PM, o São Paulo se comprometeu a apresentar o jogador paraguaio à DRADE (Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva) nesta quarta-feira para prestar depoimento.

Para Navarro, a situação não pode passar impune:

— (Espero) Que se faça Justiça, não se pode mais passar isso. No ano passado viemos e dois jogadores nossos tiveram problemas com a Polícia, e fazem um escândalo quando a uma equipe brasileira fazem esse tipo de insulto. E agora se passou comigo, é lamentável falar disso, o que se deve falar depois do jogo é sobre jogo, não sobre racismo.

Ainda em campo, Navarro recebeu o apoio de alguns jogadores do São Paulo, entre eles os também estrangeiros Ferraresi e Arboleda:

— Falei algo a ele (Ferraresi), de como me sentia, contei a ele, me senti mal, me sinto mal. Prefiro guardar, são coisas privadas, mas ele esteve ao meu lado, o equatoriano Arboleda também se colocou do meu lado, sabia o que ele tinha dito. Estiveram todos do meu lado.

Antes mesmo da entrevista coletiva, Navarro já havia se manifestado nas redes sociais com mensagens de indignação e afirmações de orgulho pelas suas origens:

— Quisera eu poder ter nas minhas mãos a solução para a fome que vive meu país, espero que Deus me dê abundância para poder ajudar. Não creio que se possa fazer muito sobre a pobreza mental.

— Nunca me envergonharei das minhas raízes, irei até as últimas consequências frente ao ato de xenofobia que vivi hoje no Brasil pelas mãos de Damián Bobadilla. No futebol não há espaço para discursos de ódio.

Agora, o caso será conduzido pelas autoridades competentes, enquanto o Talleres e o jogador aguardam desdobramentos oficiais. O São Paulo, por sua vez, ainda não se pronunciou formalmente sobre o episódio.

Fonte: Jogo de Hoje 360



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